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Enoturismo

Safári enológico na África do Sul

27 abril 2020
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Na região de Cape Winelands, a ordem é percorrer algumas das paisagens mais belas do planeta, fazer paradas em vinícolas cinematográficas, contemplar a arquitetura centenária local e degustar bons vinhos com pratos vibrantes

Viajar pelas Cape Winelands tem o impacto de um shot de witblits, destilado típico do Cabo Ocidental, comparável à grappa. Nos arredores da Cidade do Cabo – e até mesmo dentro da sua zona urbana – os vinhedos disputam atenção com montanhas de formatos insólitos, parques naturais e praias banhadas ora pelo Atlântico, ora pelo Pacífico.

Bonitas por natureza, as vinícolas da região também abrigam restaurantes de chefs premiados, infraestrutura de primeira para o enoturismo e um portfólio peso-pesado de edifícios erguidos no estilo colonial holandês. Ao gosto dos primeiros europeus a fincar bandeira na África do Sul, eles se destacam da paisagem verde, com seus frontões lindamente decorados, telhadinhos de sapé, janelas de treliça e paredes alvíssimas.

O Instagram agradece.

Legado
Não só da arquitetura e da loirice vive a herança holandesa. Estabelecida no Cabo Ocidental para abastecer de produtos frescos os navios que zarpavam da Europa a caminho da Ásia, a Companhia Neerlandesa das Índias Orientais preparou o terreno para a primeira vinha, plantada em 1655 por Jan van Riebeeck, considerado o fundador da Cidade do Cabo.

Mas foi só com a chegada dos imigrantes franceses, no fim do século 17, que os vinhos sul-africanos começaram a ficar realmente redondos.

Três séculos de aprendizado depois, o país é hoje o nono maior produtor do mundo, tendo Cabernet Sauvignon (12,3%), Shiraz (9,9%), Merlot (6,5%) e Pinotage (6%) como principais matérias-primas para os tintos, e Chenin Blanc (18,4%), Colombar (11,8%), Sauvignon Blanc (9,3%) e Chardonnay (8,2%) como base dos brancos.

Em 2018, a África do Sul exportou 420 milhões de litros, o que corresponde a 51% da produção local.

Vinícolas
Região produtora mais antiga do país, Constantia é um elegante bairro da Cidade do Cabo, separado do centro pela icônica Table Mountain. Fundada em 1685 por Simon van der Stel, primeiro governador da colônia holandesa do Cabo, a Groot Constantia (grootconstantia.co.za) é a vinícola veterana do país e orgulha-se de seu Grand Constance.

Trata-se de um exemplar premium do Constantia Wyn, vinho de sobremesa à base da uva Muscat Blanc à Petits Grains, apreciado por figurões que vão de Napoleão Bonaparte ao poeta francês Charles Baudelaire.

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Além do tour pelas instalações em estilo colonial, o lugar oferece vários tipos de degustação (com opções de harmonização com chocolate) e tem dois restaurantes – um deles é o Jonkerhuis (jonkershuisconstantia.co.za), ideal para um café da manhã reforçado antes de iniciar os “trabalhos”.
No outro extremo da linha do tempo está a Beau Constantia (beauconstantia.com). Encarapitada no topo de uma colina com vista para False Bay, esta vinícola-boutique harmoniza degustação e badalo, com um lounge ao ar livre que paira sobre os vinhedos e o Chefs Warehouse, considerado um dos melhores restaurantes do país pela revista Eat Out (referência local).

Outra fora da curva é a Steenberg (steenbergfarm.com), na ativa desde 1682 e reconhecida por seus espumantes feitos a partir do método Clássico.

Os bebericos rolam num salão que é a fina flor do design, diante de um espelho de água. Abriga hotel de luxo, wine spa, campo de golfe e dois ótimos restaurantes. Uma vez em Constantia, não há como desviar de Kirstenbosch, jardim botânico que é forte candidato ao posto de mais bonito do mundo.

Caminhar por suas passarelas elevadas sobre as árvores, aos pés da Table Mountain, será um dos passeios mais instagramáveis da sua viagem. No verão, é de lei levar uma ou duas garrafinhas de vinho com alguns petiscos para curtir um show (aos domingos) ou um cineminha ao ar livre.

Todo enófilo que se preze combina uma viagem à Cidade do Cabo com uma esticadinha de 50 km até a principal região produtora do país: o triângulo formado pelas cidades de Stellenbosch, Franschhoek e Paarl – onde fica a Nederburg (nederburg.com). Estabelecida em 1791 por imigrantes alemães, esta parceira da WINE ostenta o título de “monumento nacional” por seu edifício principal, em estilo colonial holandês, além de uma enorme lista de prêmios pela produção.

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O jeito mais original de conhecer a vinícola é no passeio de moto e sidecar vintage, que começa com um café da manhã, passa pelas montanhas de Paarl e fecha com degustação.

Ícones
A 25 km da Nederburg, no Vale de Simonsberg, a Marianne Wine Estate (mariannewines. com) é outra parceira da Wine, fundada em 2004 por uma família de Bordeaux que caiu de amores pela África do Sul.

Além de alugar casas e lofts para visitantes, oferece tours, workshop de blending e passeios de bike. As tacinhas podem ser combinadas com queijos locais ou biltong, especialidade sul-africana à base de carne-seca e curada (bovina, de caça e até de avestruz!), cortada em tiras finas ou pedaços. É um prato tão emblemático quanto a Pinotage, a uva tinta sul-africana por excelência (entre as brancas, a Chenin Blanc, também conhecida como Steen, é a estrela principal, e produz incríveis vinhos secos e doces).

Desenvolvida em 1925 pelo químico Abraham Izak Perold, a Pinotage nasceu na Universidade de Stellenbosch como fruto do casamento (arranjado) entre a robusta Cinsault (ou Hermitage) e a delicada Pinot Noir. Cheia de vida – e de ótimos restaurantes, como o Eike (bertusbasson. com) –, Stellenbosch ainda gira em torno da sua famosa universidade, ao passo que é o epicentro da principal região produtora de vinhos do país – a cidade foi a primeira região a estabelecer uma rota formal entre as vinícolas, que se tornou um dos destinos turísticos mais percorridos do país.

Além de visitar vinícolas com visuais cinematográficos, como é o caso da Starck-Condé (stark-conde.co.za), vale dar um pulo (ou mais) na vizinha Franschhoek. Reduto francês, a cidadezinha é considerada a capital gastronômica do país – não perca o Petite La Colombe (petitelacolombe.com).

E não se esqueça de programar o GPS para passar, no caminho, na luxuosa Delaire Graff (delaire.co.za): a vista para as montanhas e os vinhedos será a apoteose da sua viagem.

Escrito por: Wine